quarta-feira, 23 de junho de 2010

Minusbaby - Saudade For Beginners


Finalmente. Há alguns meses atrás, quando eu conheci o trabalho do minusbaby, em seu site já dizia que ele lançaria esse disco em breve. E aqui ele está.

Minusbaby é o projeto de Richard Caraballo, um nova yorquino que ama o Brasil. Ele é sem dúvida um caldeirão de influencias: Krautrock, pós-punk, No-wave, MPB, bossa nova, shoegaze, samba... E por conta disso suas músicas são distintas da maioria dos chiptunes.

Com esse disco suas influências brasileiras são bem visiveis, tanto nos nomes como em tentativas de como seria um agogô e cuica versão 8 bits. As faixas foram compostas em São Paulo, quando Richard passou por aqui ano passado, e em Nova York. Os nomes são engraçados e ele me disse que quando toca ao vivo algumas músicas as pessoas não entendem o nome só porque não é inglês.

Comendo pão e passando mal, a abertura do disco, tem uma influência enorme da Tropicália e do samba.
El Camino de Tu casa a la mia casa é a segunda faixa do disco e é ótima por conta da parada que existe no meio da música.
São Roque (Bella/Boa) é uma das minhas músicas favoritas nos últimos tempos. Tem uma batida poderosa, a melodia fica na cabeça por dias...
Minha Caipirinha é Ótima (Very, Very) é mais lenta que o resto do disco, mas quem liga se a caipirinha é ótima?
E a favorita do público, Ela Chegou, é de uma beleza admirável. Quando ouvir tente imaginar um pandeiro e um cavaquinho numa roda num bar com algumas caipirinhas. Perfeito.

Nós brasileiros ainda temos um complexo de inferioridade, todos sabemos. Mas parece que a inovação por aqui se limita a pegar tudo, jogar no copo e bater. Minusbaby não faz isso não. Ele pega, amassa tudo, mistura com gelo e açucar e fica uma beleza.

Download aqui, no 8bitpeoples

E como ele diz: Balança isso que a sua mom te deu!

sábado, 9 de janeiro de 2010

Left - minusbaby

Estava devendo esta resenha a algum tempo. Ainda tenho outras mais pra fazer de meus outros colegas chip, então aguardem discos de chipmusic por aqui.

Esquerda. Canhoto. Abandonado. São vários os significados para a palavra Left, e talvez não saibamos qual é o correto, como todo ótimo álbum de bons artistas. A interpretação é a única coisa que nos aproxima de um músico e sua arte, mesmo que ela esteja completamente errada. Nesse momento de iluminação e conhecimento realmente acreditamos que fazemos parte, que entendemos, que tudo faz sentido. Bobagens.

O disco de Richard Carabello é, como Nathaniel Adams descreve no release do 8bitpeoples: "um espaço sonoro onde uma cidade imaginária é construída no olho da mente a partir do materiais mais crus e ainda assim parecer polido e eterno".

Para mim, o disco é um ode à vida e morte. Há esse sentimento de nascimento e falecimento permeando as faixas. Também pode ser entendido como o abandono, a rejeição de alguém que você preza muito naquele momento, do sentimento que nasce na primeira faixa e que morre na última. Há uma grandiosidade que não tem como ser explicada, somente sentida. Um ótimo trabalho de mixagem e composição.

Seja lá o que realmente signifique este álbum - inclusive sua capa irônica - e independente de seu entendimento, todos sabem que há uma magia, um transcender neste disco. É a chipmusic saindo da carapuça de coisinha bonitinha, sons bobinhos ou música dance ruim. Há muito a ser enfrentado ainda e Left é só o primeiro passo nessa estrada.

Faça o download gratuito do disco no 8bitpeoples!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Neuromancer (e Johnny Mnemonic)


Hoje chegou, finalmente, minha cópia de Neuromancer, de William Gibson.

Já fazem alguns anos que meu desejo de ler este livro me instigava por obras cyberpunks. A idéia de um mundo composto de fios, microchips e cibórgues; o futuro distorcido; máquina e homem - numa alusão criada na minha mente pelo Kraftwerk; é simplesmente fantástica para mim.

Ainda não li o livro inteiro, claro. Tinha colocado meus olhos no romance de Gibson quando baixei, mas todos sabem que não há graça alguma em ler um livro numa tela de computador. Eu acredito que é muito mais divertido poder levar aquela coisa física pra qualquer lugar, seja no ônibus, num parque, ou seja lá onde você costume frequentar.Nessa minha ânsia de cyberpunk, me deparei com um filme que basicamente preparou Keanu Reeves para Matrix. Johnny Mnemonic, também de Gibson, é o primeiro conto que Molly, uma das personagens centrais de Neuromancer, aparece. Há no site Project Cyberpunk, em inglês, o conto inteiro para ler.

Em uma das minha viagens à cidade natal de minha noiva, dando uma olhada na videolocadora local, me deparo com o filme. Como já tinha ouvido falar, decidi alugar e assistir. Algumas coisas são tão atuais que assustam - apesar de datados. Exemplo é o espaço na cabeça de Johnny - só 80 gigabytes, com um adaptador dobrava o tamanho.

O filme tem bastante ação, mas pra quem não gosta do estilo vai acabar achando tedioso. Keanu Reeves prova que realmente é um ator meia boca, pois a atuação é idêntica de Matrix. Mas a história é ótima e me prendeu minha atenção, especialmente pelas imagens traduzidas do papel para a tela. O próprio Gibson foi o roteirista, portanto é extremamente fiel à visão do autor.
Mudando de história, mas não de estilo, existe uma séria que durou pouco, mas que marcou bastante chamada Max Headroom.

O seriado retrata um mundo caótico, com toda a premissa de um bom romance cyberpunk: hi-tech, low life (alta tecnologia, qualidade de vida baixa). Tudo gira em torno de Edison Carter, jornalista, e sua luta contra a corrupção que assola a cidade. Quando ele descobre que a rede de comunicação em que trabalha faz experiências com propaganda, faz questão de trazer o caso a público, mas sofre um "acidente". Disso, o "vilão" da série chamado Bryce Linch, um cientista prodígio, pega as memórias de Edison e cria uma inteligência artificial para tomar seu lugar. Só que no começo a unica coisa que consegue dizer é Max Headroom, a ultima coisa que Edison viu antes de seu acidente.

Daí acontecem outros fatos, mas já me prolonguei o suficiente. A série é muito boa, durou apenas 2 temporadas, mas foi no mínimo importante para a popularização do cyberpunk, pelo menos na televisão americana.

Enquanto não termino de ler Neuromancer, recomendo assistir Johnny Mnemonic e tentar encontrar Max Headroom.

Fiquem com o trailer de Johnny Mnemonic e o comercial falido de Max Headroom para a New Coke.



terça-feira, 9 de junho de 2009

Um Grito de Liberdade


Um Grito de Liberdade (Cry Freedom), de 1987 e dirigido por Richard Attenborough, trata de um momento na vida de Donald Woods (Kevin Kline), um jornalista Sul Africano, que conhece e se torna amigo de Steve Biko (Denzel Washington), feroz ativista político antiapartheid. Baseado em dois livros-reportagem escritos por Woods, Biko (Ed. Best Seller) e Asking for Trouble (sem lançamento no Brasil), o filme é um retrato de eventos que aconteceram na África do Sul no fim da década de 70. Apesar de não ter sua exibição proibida na África do Sul, cinemas que o fizessem sofriam ameaças de bombas.

Steve Biko incomodou muita gente e sua morte foi um alívio para muitos na África do Sul. Ele era o presidente do Movimento Consciência Negra, o qual buscava o fim do “monopólio branco” sobre o que era verdade na história da África do Sul. Carismático, Biko era um líder nato. Seus discursos e idéias eram muito perigosos para o governo sul-africano. Tanto que em 1973 ele foi “banido”, ou seja, não podia se comunicar com mais de uma pessoa por vez, impossibilitando-o de discursar para grandes platéias. Apesar do “banimento”, Biko continuava pregando suas idéias para o público de maneira ilegal. Mas, em agosto de 1977, o ativista foi preso por descumprimento da lei e, em cárcere, sofreu tortura e faleceu em setembro do mesmo ano. A versão do governo era que ele havia feito greve de fome.

Donald Woods era apenas o editor do Daily Dispatch e um liberal que não se incomodava com o apartheid. No início do filme Woods critica as ações de Biko, acreditando que elas eram extremadas e que não diminuíam as crises recorrentes entre o governo e a população negra do país. É interessante notar a mudança por que passa Donald Woods. De grande apatia, após conhecer pessoalmente Biko e entender suas idéias, ele passa a ser um ativista anti apartheid e por conta disto, assim como Biko, sua vida acaba em risco. O jornalista que antes criticava Biko usa, em seguida de seu encontro com ele, os mesmos editoriais para criticar o governo.

Apesar de ter sido considerado subversivo, as idéias de Biko eram de igualdade entre brancos e negros. Em muitas cenas do filme ele demonstra como todos poderiam viver em igualdade. Ao contrário do que a palavra “ativista” remete, Biko era um pacifista, assim como Ghandi – personagem histórico o qual o mesmo diretor havia retratado em 1982. Ele ia contra a violência e queria igualdade através dos mesmos instrumentos que os reprimiam. Woods o considerava racista por conta de suas declarações contra os brancos, mas, como vemos durante o filme, ele é contra o racismo e não contra qual seja a cor que o oprimisse. Também não desejava que os negros fossem a classe dominante, mas sim que brancos e negros pudessem viver no mesmo país de forma igual.

Em uma das cenas mais memoráveis do filme, Biko está na corte discutindo com o juiz e então este mesmo diz “Porque vocês se chamam de negros? Vocês são mais marrons do que negros”. Biko era um homem de inteligência, sincero e sereno, e sua resposta resume seu caráter e papel de líder: “Porque vocês se chamam de brancos? Vocês são mais rosa do que brancos”.

Um acontecimento principal para o filme é o massacre ocorrido em Soweto, distrito de Johanesburgo, maior cidade da África do Sul, no dia 16 de Junho de 1976. Um protesto envolvendo estudantes negros que gostariam de que o inglês fosse ensinado nas escolas ao invés do africâner. Para eles o africâner era a “língua do opressor”. Para um negro freqüentar a escola era preciso pagar, enquanto um branco obtinha estudo de forma gratuita. Ao meio da passeata, até então pacifica, o governo impediu seu término, que seria em um estádio próximo. O exército atirou bombas de gás nos manifestantes. Os jovens revidaram com pedras. Já o exército tinha armas e matou entre 200 a 600 pessoas. Os números do governo na época era de 23 estudantes mortos. O Movimento Consciência Negra apoiou esse levante.

O filme retrata pouco do jornalismo, mas, assim como Todos os Homens do Presidente, é fielmente traduzida para o cinema. A ousadia de Woods ao fotografar Biko no necrotério é interessante, pois demonstra o ímpeto necessário para ter o “furo”, ou nesse caso mostrar a verdade que o governo quer esconder. Se em Todos os Homens do Presidente o caso é a corrupção do governo Nixon, aqui temos a luta de um jornalista para dizer a verdade sobre um outro tipo de corrupção – no caso a polícia e suas maneiras de repressão.

Nele também são visíveis as ações do governo com todos aqueles os quais eram perigosos de algum modo e eram “banidos”. É o que aconteceu com Woods após a morte de Biko, restringindo-o de seu trabalho. Durante o banimento, ilegalmente, Woods escreveu o livro Biko e, para poder publicá-lo, fugiu com a família do país, pedindo exílio ao governo inglês. Após sair do país, Woods continuou sua luta para o fim do apartheid e para manter a lembrança de Biko viva.

Há grandes similaridades com Ghandi, outro filme de Richard Attenborough. Biko e Mahatma Ghandi foram grandes ativistas políticos no mesmo país. Os dois lutavam por direitos das minorias e tinham grande carisma perante o público, com suas idéias se tornaram heróis. Só que Biko não tem o mesmo status de Ghandi, e o mesmo se refletiu nos filmes. Denzel Washington conseguiu ser indicado ao Oscar de ator coadjuvante, sendo que Ghandi ganhou o premio máximo do cinema.

Uma das críticas a Um Grito de Liberdade foi o fato do protagonista ser o jornalista ao invés de dar mais participação para o ativista. Acredita-se que o público, caso Biko fosse o protagonista, seria outro. Para a época de seu lançamento, que foi 10 anos após a sua morte e com o apartheid ainda em vigor na África do Sul, talvez tenha sido prudente manter Woods como o personagem central da trama. Ainda assim o filme se manteve como um retrato do apartheid e seu implacável terror com os negros. Um dos pontos negativos importante de ser ressaltado é sua duração de aproximadamente 160 minutos, o que deixa o filme um pouco arrastado em alguns pontos. Também podemos dizer que o filme é dividido em duas partes, talvez propositalmente. Uma Biko é a peça principal, na segunda os ataques à família de Donald Woods são a constante.



Escrevi este artigo para uma matéria da faculdade. Não acredito que seja um dos meus melhores, mas todo mundo sabe que eu escreveria bem melhor se fosse sobre a música Biko do Peter Gabriel. Quem sabe no próximo post!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Daniel Johnston e seus demônios

Eu demorei muito tempo pra conseguir assistir "The Devil and Daniel Johnston". Eu não sou uma pessoa que lembra de tudo, mas certas ocasiões são memoráveis demais para se esquecer. Meu primeiro contato com Daniel Johnston foi pelo meu (hoje) velho walkman, o qual tinha levado para a escola. Na época (2003-2004?) eu gostava de escutar o programa do Kid Vinil - sempre ele apresentando coisas boas - e ele contou um pouco da história do Daniel. Ao que me lembro ele havia desaparecido novamente e em homenagem Kid tocou Speeding Motorcycle. Mas essa história eu já contei antes.

O documentário, de 2006, é realmente esclarecedor, especialmente se você assiste a alguns vídeos de Daniel tocando ao vivo, tremendo e cantando desafinadamente. Parece que ele está lá por obrigação, mas não. Ele realmente gosta da atenção, sempre acreditou que seria um grande artista.

Não cabe aqui explicar, nesse momento, a importância de Daniel Johnston. Não é um tipo de música fácil de assimilar. A sinceridade exposta, a sua loucura, seus demônios e sua musa.

Mas cabe, sim, dizer o quanto Daniel lutou para ser reconhecido. Sua família cristã que queria Daniel trabalhando, sua vontade de ser artista, seu amor platônico na faculdade, todas as fitas gravadas, álbuns e músicas fantásticas.

Muito bem dirigido, o documentário - apesar do clichê - joga uma luz no lado desconhecido de Daniel, um dos maiores compositores vivos, hoje. O uso iconográfico da fita ao reproduzir o conteúdo das mesmas dá um efeito muito bonito na tela, o diretor conseguiu ótimas imagens de arquivo da família, as entrevistas foram bem conduzidas. E, apesar de Daniel ser o motivo do documentário, ele não é o entrevistado principal. Acredito que tenham poucas falas dele - na atualidade - no filme inteiro, mas nem por isso a credibilidade é inexistente. O final do documentário é muito bonito. Daniel dança, freneticamente, num belo jogo de edição no qual realmente parece que ele dança ao som da música.